Mesmo com o grande impulso na atividade de gestão de resíduos nos canteiros de obras devido às certificações ambientais e a Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos, as ações como responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos e o conceito de logística reversa são pouco exploradas.
Um balanço realizado após uma década da resolução Conama 307/2002 aponta que as iniciativas da construção civil para minimizar o impacto ambiental devido aos resíduos gerados em canteiro de obras são positivas. Esta resolução criada pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente estabelece diretrizes, procedimentos e critérios para a gestão dos resíduos no setor. Por mais que não haja dados oficiais que comprovem esta informação, é perceptível a preocupação das grandes construtoras com o tema e o crescente número de ações especificas assim como o comprometimento com a adoção de práticas sustentáveis nas obras.
Especialistas do setor dizem que o engajamento intensificou em função das iniciativas para obtenção de certificações ambientais dos empreendimentos, como o LEED e o Aqua. De acordo com o Élcio Careli, mestre em tecnologia ambiental e presidente da Obra Limpa, ambos os certificados consideram a questão dos resíduos um dos principais requisitos. Como exemplo ele cita o sistema de pontuação do LEED que estimula a reutilização interna tanto na forma bruta quanto na forma de agregados reciclados.
O desconhecimento de leis, normas e conceitos importantes ainda sim são um dos principais erros na gestão de resíduos. Outros grandes desafios são as construções informais que atualmente são responsáveis por 75% dos resíduos gerados e a falta de infraestrutura por parte da maioria dos estados brasileiros.
Embora o quadro para a gestão de resíduos seja animador, não podemos dizer o mesmo quanto à reciclagem deste material. Estima-se que 50% a 70% da massa de resíduos sólidos urbanos sejam provenientes de resíduos da construção e demolição. Em São Paulo são produzidos diariamente 17 mil toneladas de resíduos geradas pelasconstruções formais e informais.
A Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição (Abrecon) estima que as empresas de reciclagem recebam mensalmente aproximadamente 231 mil m³ de resíduos da construção civil, 183 mil m³ são efetivamente recicladas e o restante é considerado lixos. No entanto o potencial de crescimento é enorme a julgar pela capacidade de reciclagem mensal destas empresas ser de 741,5 mil m³. Devemos nos inspirar em exemplos como o de países como a Holanda onde 97% dos resíduos gerados na construção civil são reciclados.
Outro entrave que devemos transpassar é barreira criada por engenheiros que ainda acreditam que a qualidade dos produtos oriundo da reciclagem do entulho, o agregado reciclado, seja inferior ao produto virgem proveniente de pedreira ou de portos de areia. Ensaios de resistência provam que muitas vezes o material reciclado são superiores e são 40% mais baratos do que os agregados naturais.